Opinião
Saudades do "vô"
Por Marcelo Oxley
Empresário e jornalista
marceloesporte [email protected]
Já se aproximavam das 11h quando recebi uma ligação, afoita, da professora de inglês do meu filho mais novo, Antônio. O meu coração por alguns segundos oscilou entre o pavor e o desespero: "Marcelo, Marcelo, o Antônio não para de chorar". Eu perguntei: "Ok, mas o que aconteceu?" "Ele está com muitas saudades do avô", me respondeu.
O trajeto até o cursinho, logo após a ligação, foi um mix de sentimentos e confesso que algumas lágrimas vieram sem perceber. Eles sempre foram muito grudados, se conheciam nos olhares debochados e nas risadas sem fim. Não à toa que tinham o mesmo nome. Uma singela homenagem da minha esposa e minha ao meu pai, por ter vencido o vício da bebida e por seu amor por eles.
Quando o meu filho me viu o pranto se intensificou e quando conseguiu se acalmar o questionei o que havia acontecido, se alguém tocou no nome do seu avô ou a aula falava de pessoas que não mais estão aqui. Tentei achar, em vão, o estopim para aquela crise, por vezes triste, por vezes feliz. "Pai, me lembro que o 'vô' me levava e buscava da escola e hoje senti sua falta. Nós sempre brincávamos no carro. Eu era sempre o primeiro a sair da aula". Essa foi a resposta pura e verdadeira de uma criança de sete anos. Mais algumas sorrateiras lágrimas completavam os meus olhos. Aliás, quantas vezes fui comunicado pela escola que meus filhos saíam alguns minutos antes do término da aula? Coisas de avós. Nunca tive coragem de questioná-lo sobre isso. Nunca! A satisfação de vê-los correr para seus braços me confortava de uma maneira ímpar, não me tornando capaz de interrogá-lo.
O avô deles sempre foi uma pessoa pacata e fiel a sua família. Seus netos eram tudo para ele. A sobrevida que lhes deram, com certeza, fez com que vivesse um pouco mais, e isso que faleceu com 62 anos, um "guri". E assim, o vínculo se tornou algo inimaginável, inexplicável e exemplar.
Hoje, quando precisamos deixá-los em algum lugar para uma diversão, sempre dizemos que não temos mais aquele amigão que os cuidava como se fossem de porcelana. Que os cuidava como se eles tivessem apenas mais um dia de convívio e, infelizmente, aquele dia chegou. Tenho certeza que o meu pai aproveitou cada segundo, cada momento. E mesmo que me indague ao anoitecer, tenho convicção que fiz o que pude para eles, para o amor deles.
Há uma regra bem definida que também serve para todos: você vai colher o que plantar. Os seus feitos atravessarão qualquer fase dos seus filhos, seus netos. O seu nome ecoará por longos anos... se for um boa pessoa ou se não for uma pessoa agradável. E me diga: como você vai querer ser lembrado? Um filho, pai, avô maravilhoso? Ou um filho, pai, avô indiferente? Você pode ter certeza: o amor é muito maior e melhor do que a escuridão do "tanto faz".
Sempre digo que há tempo para novos sentimentos. Não culpe seus pais se eles não foram o que você espera ser como pai, mãe. Talvez eles só tivessem aquele jeito e regras para lhe oferecer. Talvez não receberam o bastante para dar. Enfim, outros tempos...
O tempo voa. Hoje você tem o seu filho nos braços. Amanhã lhe restará apenas histórias dele com seus pais. E por aí seguimos as leis, por vezes controversas, da vida. Você não imagina o quanto repassar "tarefas" do seu filho aos seus pais é extraordinário e revigorante. Há uma preparação para aquele momento. Existem ideias e sonhos. Regras são quebradas. Porém, o carinho, lealdade e paixão serão eternos.
Seja sempre o melhor filho, pai e avô que puder e desfrute do reconhecimento.
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